O 17º Curso das PLPs de São Bernardo do Campo em 2021

por: Natália Gil

o esperançar das mulheres em tempos de ódio e machismo estrutural.

A crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 intensificou outra crise a qual há anos assola nosso país: a violência de gênero. Durante a pandemia, de cada dez mulheres grávidas que morreram devido à covid-19 no mundo, oito foram no Brasil. No ranking internacional de feminicídio, o Brasil ocupa a quinta posição entre 83 países. O aborto é a quarta causa de morte materna no Brasil, sendo responsável por mais de 200 mortes de mulheres, além de graves complicações de saúde. Embora as notificações dos dois últimos anos tenham apontado  uma tendência de desaceleração, a percepção de aumento da violência foi apontada por 51% das mulheres. Com a diminuição da renda, o isolamento na esfera privada e a intensificação da convivência com os agressores, houve subnotificação dos casos de violência sexual, uma vez que os canais de comunicação para a proteção do Estado, como o acesso aos serviços públicos e delegacias, ficaram restritos. Como resultado, segundo o  Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), entre janeiro e junho de 2021, foram registrados 666  feminicídios, o maior número registrado no primeiro semestre de um ano, desde a série iniciada em 2017. 

Foi nesse período de tantos retrocessos que se deu a oferta da 17ª Turma de Promotoras Legais Populares de São Bernardo do Campo. O interesse foi enorme, sendo realizadas 193 inscrições. Contando com a parceria da Universidade Federal do ABC (UFABC), a formação foi iniciada em 17 de março de 2021. Chegou a ter a participação de quase 120 mulheres em aulas síncronas realizadas pela plataforma do Google Meet.  Em 7 módulos, foram abordados temas como: 1) Sociedade, Gênero e Políticas para  as mulheres 2)Violência  de Gênero 3) Saúde, Sexualidade e Reprodução 4) Estado democrático, laico e de direitos 5) Comunicação das mídias 6) Afirmação de  Direitos e Gênero e 7) Desafios Contemporâneos.

Além das mulheres residentes de São Bernardo do Campo, também tivemos algumas das cidades de Diadema, Mauá, Santo André, São Paulo, Atibaia, Sorocaba, Belém-PA, Salvador-BA, Curitiba-PR e Goiânia-GO. As aulas foram bastante dinâmicas, contando com muita iniciativa das participantes que compartilharam relatos de experiências, trouxeram questionamentos e partilharam seus conhecimentos. 

Em defesa da igualdade de gênero, o curso procurou problematizar as explorações e opressões contra as mulheres considerando as dimensões de gênero, raça e classe. Além disso, embora pretenda abranger o máximo de mulheres, as PLPs procuram priorizar a formação popular direcionada para mulheres das periferias.

Nessa aproximação, inspiradas pelas conquistas de mulheres brasileiras nas Olimpíadas de Tóquio, onde obtiveram o melhor resultado de toda a história dos Jogos (9 medalhas), a Turma 2021 foi batizada pelo grupo como "Somos todas Rebeca". A identificação com a atleta se deu também diante da afinidade e reconhecimento das participantes com seu percurso. Rebeca, filha de mãe solo, viveu na periferia de São Paulo, em Guarulhos. Mulher e negra, obteve conquista de suas medalhas em um esporte tradicionalmente dominado por mulheres brancas. A importância de sua representatividade significou encorajamento, a fim de que as demais brasileiras continuem lutando pela garantia de direitos e pela valorização em todos os espaços da sociedade. 

Sabemos que muitas foram as dificuldades ocorridas durante o período de pandemia. Infelizmente, muitas daquelas que entraram não conseguiram finalizar o curso.  Apesar de todos os percalços, com muito interesse, esforço e dedicação, na noite do dia 13 de outubro de 2021, após 30  aulas e total de 75 horas juntas, tivemos a formatura on-line de  45 Promotoras Legais Populares.

Em 2022, muito em breve, será lançada mais uma edição do curso. A formação popular em direitos para mulheres que existe e resiste desde 2005, seguirá sendo organizada pelo grupo de Coordenação das Promotoras Legais Populares de São Bernardo do Campo. Disponibilizaremos mais informações nos próximos dias. 

Relatos de algumas PLPs da 17ª turma:

"Excelente! Eu achei que eu cresci muito esse ano e me senti encorajada para agir nas situações que precisam de ajuda. Senti que precisava dessa iniciativa. Foi um espaço de escuta e de acolhimento e também propício à discordância"

"Antes eu não tinha muito conhecimento acerca de muitas coisas que foram abordadas no curso. Foi muito rico. Os conteúdos trabalharam muitas coisas do feminismo, Lei Maria da Penha, que até então eu só conhecia superficialmente. Muito bem elaborados. As palestrantes tinham domínio e em cada aula pude ver o quanto contrubuiu para a minha aprendizagem"

"Foi um espaço importante num momento tão difícil das nossas vidas neste país. Eu perdi pessoas queridas e me senti solitária em vários momentos da pandemia. Então, posso dizer que este curso salvou meu ano, porque, além de proporcionar muito aprendizado, aqui fiz amizades e também fortaleci meu propósito de seguir lutando pelos direitos das mulheres"

Referências:

Para as mulheres, a pandemia é sinônimo de retrocesso social http://cee.fiocruz.br/?q=node/1339

Violência e retrocesso são destaques em luta pelos diretos das mulheres http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/violencia-e-retrocesso-sao-destaques-em-luta-pelos-diretos-das-mulheres/

O QUE ESTÁ POR TRÁS DO AUMENTO DOS FEMINICÍDIOS NO BRASIL? https://fontesegura.forumseguranca.org.br/o-que-esta-por-tras-do-aumento-dos-feminicidios-no-brasil/

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